A isto se chama destino: estar em face do mundo, eternamente em face (Rilke)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

EM ESTILO GÓTICO


Era Lídia quem eu mais queria naquele momento, diante do fogo, em meio ao ensaiar de passos e de uma cantoria sem fim. As valas profundas, abertas, recebiam comidas e bebidas, destinadas à deusa, para que assim ela pudesse atender aos pedidos. Chamei Lídia em voz alta, gritei o mais que pude, até que seu corpo surgiu à minha frente e maliciosamente me convidou a trilhar uma estrada estreita de boa terra, de onde avistei casas esparsas, rodeadas de bambuzais e bananeiras, e lá longe, mais à frente, uma montanha lilás, banhada pela luz do sol. As árvores foram aos poucos se afastando e, à medida em que avançávamos, o grande paredão de formas sinuosas trouxe aos pés uma igrejinha em estilo gótico, cercada por um casarão...” (Trecho do livro "A caminhada ou O homem sem passado" - Foto de Roberto Nicolato)

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


DESPEDIDA

  
Adeus ilusões perdidas,
dores desavisadas,
abrigos imemoriais.
Capim de ribanceiras.
Beijos roubados.
Minha sorte viaja de trem.

Adeus estações veladas
à distância, construções
de fumaça. Muros e bananeiras.
Destino incerto à beira
da estrada. Dormentes marrons.

Adeus canções do mato, louva-a-deus.
Sol de todos os amores,
Cachoeiras que guardam segredos.
Arroubos de sonhos.

Meus passos seguirão ocultos,
na obscuridade dos mundos.
Estarei vagando por caminhos,
Como um lobo solitário.

Adeus bando de tanajuras,
mariposas, libélulas.
Benção dos rios, para sempre
minha sorte estará perdida.
Meus sonhos me ultrapassarão.
Trem dos desejos imediatos,
velha construção que balança.

Adeus bancos da praça,
Políticos desavergonhados,
alcoviteiras de plantão,
amores que não provei.
Dores que não amei.

Adeus querubins do mato,
tronco de angico, peixe desavisado.
Muros que não fecharam a vida,
estendida para a aventura, doce
morada de frutas suculentas, amadas.

Adeus fantasmas de beira de estrada,
segredos que a noite esconde
e finge que os mostra nas crendices.

Adeus imagens perdidas na memória
Coração desnudado, de outros sonhos,
Trem que parte lento na imaginação...

Poema e foto de Roberto Nicolato