A isto se chama destino: estar em face do mundo, eternamente em face (Rilke)

sexta-feira, 5 de junho de 2015




RASTROS


Meus olhos choram. No azul da serra,
o mundo  curva-se, vai embora...
Amordaçado vivo essa insânia,
Rastejando o corpo desnudo nas ervas.
Levanto o meu grito, atingindo-o.
Fizeram-me da terra estrumada,
Conduzindo  boiadas,
Abrindo porteiras.
Ao carreto de latas d’água; o corpo torto.
Vivi a aurora como brisa,
toquei as folhas, os corpos, a fome.
Fizeram-me a tuas maneiras,  
Pescando nas represas – argila
No pensamento, barro na cabeça.
Fizeram-me menino trancado e risonho,
enrubescido em casos de gente grande.
Levando poeira dentro peito;
O coração ferido a ponta de faca.
Fizeram-me num mundo extenso,
quadrado, sem brinquedos;
Sentindo a chuva, meus monstros.
Fizeram-me sereno diante das coisas,
a observar a lua branca por estreitos
caminhos que hoje figuram na imaginação.
Fizeram-me com pés em espinhos, matas virgens.
Animal a farejar o sonho...
O trágico. A partir e seguir rastros...


Nenhum comentário:

Postar um comentário