A isto se chama destino: estar em face do mundo, eternamente em face (Rilke)

sexta-feira, 5 de junho de 2015

ALUMBRAMENTO




Revelo esta paisagem,
a cachoeira de topázios imperiais,
onde se instala coração animal
que visita. Dono de trilhas.
A lua que mostro é uma rede
fiada de finos fios,
como um véu de noiva.
Revelo palmeiras, buritis.
Aqui, o Deus da Mata…
Ali, uma pequena cascata de
diamantes. Amantes, eu revelo
este sol (guia dos passos),
esta formação de carbonato.
Esta água, em que
desenhas - pedras primitivas.
O velho rio que renova.
E agiganta no teu corpo, ao banhar.
Eu revelo a cor marrom, amarela,
pedras que não medram.
Esse reino antigo.
O ouro que habita,
este chão de vespas.
Estes pássaros são seus
E estas nuvens arredias.
Eu revelo a natureza,
revolta deste rio…
para mergulharem, amantes,
teus corpos aderirem ao sal,
                 empedrarem.


Poema e foto: Roberto Nicolato







RASTROS


Meus olhos choram. No azul da serra,
o mundo  curva-se, vai embora...
Amordaçado vivo essa insânia,
Rastejando o corpo desnudo nas ervas.
Levanto o meu grito, atingindo-o.
Fizeram-me da terra estrumada,
Conduzindo  boiadas,
Abrindo porteiras.
Ao carreto de latas d’água; o corpo torto.
Vivi a aurora como brisa,
toquei as folhas, os corpos, a fome.
Fizeram-me a tuas maneiras,  
Pescando nas represas – argila
No pensamento, barro na cabeça.
Fizeram-me menino trancado e risonho,
enrubescido em casos de gente grande.
Levando poeira dentro peito;
O coração ferido a ponta de faca.
Fizeram-me num mundo extenso,
quadrado, sem brinquedos;
Sentindo a chuva, meus monstros.
Fizeram-me sereno diante das coisas,
a observar a lua branca por estreitos
caminhos que hoje figuram na imaginação.
Fizeram-me com pés em espinhos, matas virgens.
Animal a farejar o sonho...
O trágico. A partir e seguir rastros...