(Para Baudelaire)
Atravessa o nevoeiro, estira-se ao sol
Para se aquecer aquela que um dia
Perdeu o dom de voar e, desajeitada,
Bate pesadas asas, aflita.
Repousa nas cordas da embarcação,
Flexionando o dorso nu, num rompante
De mistério, de tão apaixonada
Ela que ao léu estava, triste amante!
Voz fúnebre da noite fria
Agora contorce, volta-se ao mar
Se ergue, aflita, do açoite.
As ondas vão, voltam. Balanço das velas.
Esperou esse dia para mergulhar, a ave
Que agora brilha, e era o sonho do mal.
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