Jack London, um caçador
de aventuras
Roberto Nicolato
O escritor norte-americano Jack London é um
narrador de aventuras, um explorador da alma humana e das relações sociais. Ler
o Lobo do Mar, publicado
originalmente em 1904 e lançado
recentemente pela Zahar Editora, é
embarcar numa viagem a um mundo insólito e cruel, capitaneado pelo poderoso e
inescrupuloso Wolf Larsen, personagem que leva a cabo, e à sua maneira, as
teorias darwinianas da evolução das espécies para justificar as suas atitudes
amorais e cruéis no comando de uma embarcação rumo à caça de focas no mar do
Japão.
A história começa em São Francisco, nos Estados
Unidos, quando o narrador da história, o crítico de literatura, Humphrey van
Weyden, sofre um naufrágio no barco em que utilizava para visitar o seu amigo
do outro lado da baía. Após o
incidente, Weyden é salvo pelo
capitão Larsen, e, ao contrário do que imaginava - a esperança de que seria deixado em terra firme -, logo se
vê forçado a integrar a tripulação
do navio.
De intelectual e cavalheiro almofadinha, sem
nunca ter tido contato com qualquer esforço físico, o narrador é nomeado por
Larsen na modesta função de camaroteiro do veleiro Ghost. Um pesadelo para Weyden, a começar pelas constantes
humilhações que tem que enfrentar, vindas do cozinheiro rabugento e mesquinho
Mugridge, das tempestades em alto mar e das atrocidades cometidas por Larsen
contra aqueles que ousassem descumprir suas ordens.
Com o passar do tempo, Weyden chega à funcão de
imediato e toma consciência de que
não há como fugir do julgo do capitão, com o qual passa a discutir filosofias,
pois que os instintos primitivos daquele não o impediam de estar na constante
presença dos livros. Na realidade, Larsen é tido como um darwnista de
carteirinha e acredita que, independente da moral e da civilidade, a exemplo do
mundo animal, o que deve prevalecer nas relações humanas é sempre a lei do mais
forte.
O universo opressor em alto mar e a ascendência
de Larsen sobre a tripulação do Ghost
acaba, aos poucos, por enfraquecer os desejos de revolta de Weyden que vê no
capitão a imagem do homem forte, belo e destemido, embora não menos cruel e
ameaçador. Essa resignação, no entanto, toma outro rumo na medida em que London
insere na narrativa a delicada Maud Brewster, escritora que também é salva de
um naufrágio. A figura feminina, em contraste com o primitivo Larsen, será
responsável pela guinada de rumo na narrativa de Jack e na própria disposição
do narrador, por quem se apaixona.
Como bom jornalista, London pesquisou muito
antes de escrever O lobo do Mar. Sabe-se que Larsen foi
inspirado na lenda criada em torno do capitão Alexander MacLean, que também
caçava focas. O próprio London fizera uma viagem ao Japão em 1893, no Sophie Sutherland, onde alternava o
trabalho pesado com as leituras de Moby
Dick, de Melville, obra que está na fundação do romance moderno. Na
verdade, muitos de seus livros são pautados pela experiência pessoal e para
quem a vida tinha sido marcada por intensas aventuras.
Logo de saída, O Lobo do mar tornou-se grande sucesso comercial: em dez dias
esgotou-se a tiragem de 40 mil exemplares. Antes dessa obra-prima, o autor
havia publicado O chamado selvagem,
retratando o inesquecível cão Buck, e cuja obra também colocava em discussão os
binômios natureza e cultura e civilização e barbárie, enfim de como é
necessário o refreamento dos instintos humanos para que prevaleça o devido e
harmonioso convívio social. Nesse sentido, Freud estava coberto de razão.
O Lobo do Mar, de Jack London
Tradução de Daniel Galera
Zahar Editora – 367 págs.
Nenhum comentário:
Postar um comentário