Eu, deste amor, me invado
porque desconheço teu modo,
nele, que habito como
um pássaro, de vôo incerto.
É como nuvem que
no céu destoa,
chuva próxima que chega e
desaba, lavando sortilégios,
rusgas e outras advinhações.
É um amor sem juízo, antigo,
tronco de figueira que
atravessa as margens
de um rio cristalino, com seus
peixes multicores, desavisados.
Eu que deste amor sempre
perco a razão de vivê-lo,
e nele retrocedo com um
sentimento puro
das aves de arribação.
Um amor feito de ondas,
que se repete, mas
se reinventa, arrastando
até a areia restos de
natureza e
outros seres do além-mar.
É um amor que nunca
me apercebo porque é de
mim já companheiro, irmão
de alma, fruto que do pé se
desprende, na
florescência.
É como se nele habitasse,
embora me veja distante e
desapegado. É um amor
sem promessas, futuro,
porque nele já se faz passado.
Eu, neste amor me calo,
porque tudo foi dito sem palavras;
só olhares que antecipam
o gesto, primeiro,
embalando sonhos.
É dele um sentimento maduro,
cristal de quartzo,
vinho de delicado
sabor,
que ao tempo resiste; água de chuva
que se recolhe, sem pressa.
É um amor que resiste
ao vento, às tempestades;
névoa de outono, calor dos
trópicos , frio, lã das cobertas
que me aquece o corpo.
Este é o amor que me revela
nas noites solitárias e tristes;
que me contenta, enternece,
para sempre vivido.
Um amor que não se pensa.
E assim se faz, necessário, inocente
e impuro. Este amor maduro.
Poema de Roberto Nicolato
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