A isto se chama destino: estar em face do mundo, eternamente em face (Rilke)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Um poema para o blog teorias e prosas



OUTONAL
  
Quando no outono, a tristeza desse coração desfolha,
Lembre-se de cortejar o sol, o corpo nu,
para que se cumpra a promessa.

As abelhas mirins virão a nós, na preguiça dos dias.
“É tudo em vão”, dirá a flor ao bicho que se espreguiça.

“Que o universo desse amor
seja o caminho de árvores,
 veredas e buritizais”.

Dorme no outeiro o coração do homem que duvida.
É tempo de espera, de recolhidas adivinhações.
Na solidão da floresta, densa é a noite, 
melancólica a visão do dia.

Um jaboti assovia uma canção de ninar:
“Dorme nos meus braços
a flor violeta dos manacás”.

É tempo de resinas e caules nus, vidas secretas
Do caracol ensimesmado na carapuça.

As abelhas mirins fecham-se no tronco de uma palmeira.
Deixe que a lua projete a sombra dos mares.
Desenhe um arco-íris na Garganta do Diabo.
Essas são as águas com que fazes a prece.
O orvalho com o qual inauguras todas as manhãs.

Molhe-o com teu rosto, ensine o perdão.
Não há mais tempo para o amor tardio.
A encenação das aves, inclinadas ao vento.
Recolhe-se o lagarto, o camaleão nas tendas.
O coração que se resguarda na carapaça
Para que o tempo se cumpra, outonal.

                                         Poema de autoria de Roberto Nicolato - Curitiba/PR
                                         (Fotos: Roberto Nicolato)

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