Desvio agora o olhar, e vejo que uma pequena legião desce os degraus das
escadarias da velha igreja, guiada por um vulto de veste negra, acima dos
demais na altura; de sorte que me certifico logo se tratar do pároco da aldeia,
de feições um tanto sérias e princípios não menos conservadores. Lá de cima, o
badalar do sino ganha uma nova melodia e um ritmo mais lento. A missa já havia
acabado, e teria de encontrar uma desculpa aos meus pais para justificar a
minha ausência. Mas naquele dia tudo era permitido, pois que era um dia de
despedidas.
Desço a montanha em disparada,
voando para o abismo, as pernas destrambelhadas até parar lá embaixo, com o
coração cuspido pela boca. Se era para enfrentar o pior, do que temer? Como
disse, tinha por ocasião 12 anos de idade e estava para entrar na adolescência
que, por sorte ou azar, seria vivida em grande parte no seminário, recluso
junto com outros garotos, numa grande construção cercada por uma extensa mata.
Devia dar graças a Deus pela possibilidade de estudar na companhia de filhos de
famílias dotadas de um bom poder aquisitivo. Eles eram mandados para lá para
ajudar na sua formação e eu para salvar a mim e a minha família de maiores
desgraças.
(Do livro "A Caminhada ou O homem sem passado")
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