DESEJOS
Roberto Nicolato
O que
arde em brasa, desaquece
Esquece,
na fervura que as horas exalam.
Sê tudo,
pois que tudo passa:
O abraço
fortuito, o gesto inesperado,
O desejo
incontido numa noite enganosa.
Não se
prende o instante
A não ser
no sopro fatal da ternura,
Numa
oração ao vento
Do corpo
móvel na brancura dos dias.
É que não
existe estrada aos que se ajustam
Às metas,
ao objetivo final da sorte.
É só um
gozo alucinado para quem desperta.
Uma nuvem
trovejante a quem se dobra.
Trejeitos!
Sombra viva!
É o que
és caminhante.
A lua te
tem como única companhia,
Será
cúmplice e não te roubará a sorte.
O sol
aquece os teus pulmões.
Irrespiráveis,
dilata seus olhos a sombra lancinante.
Redemoinhos
lhe alcançam o corpo na orgia.
Esquece,
pois que nada restará.
A não ser
o suor de suas têmporas,
A vontade
desacreditada dos girassóis.
Viva o
tempo das andorinhas,
O cursar
dos antílopes em retirada,
A fome
dos lobos que sobrevivem no Saara.
O pouco
que lhe é concedido...
Absorva
como água na chuva.
Sobeja,
delira, enlouqueça!
Há espaço
no tempo que se move aflito.
Repare
como as nuvens estão arredias!
Como esse
coração pulsa sem que lhe dê cordas, desejos...
A vida do
inseto invalida a permanência, de tão curta?
Vale para
quem a executa.
Não tenha
medo da dúvida,
Dos
temporais, das formigas,
Do amor
que a tudo devora
Pois que
o instante não se fixa,
E Deus
não escreve sua história na lama funda.
Com
tintas escuras apenas lhe deu corpo e alma
E desejo
para que cumpra a sua absurda aventura.
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